14 de Setembro
Queer Porto 9: vidas e vozes contra o apagamento

No movimento de um novo fôlego que o cinema ganha após o período de pandemia, a próxima edição do Queer Porto procura fazer justiça a um olhar queer, não polarizado, um olhar além-fronteiras. Aquela que é a 9ª edição do festival no Porto chega ao renovado Batalha Centro de Cinema, entre os dias 10 e 14 de outubro, com 40 filmes. É uma edição fortemente marcada pelo cinema feito por mulheres: os filmes apresentados são assinados por mulheres cis num 68%, por homens cis num 27%, e por pessoas trans ou não-binárias nos 5% restantes.

 

O cinema que o festival propõe este ano procura denunciar e subverter um olhar machista e patriarcal, que tem dominado toda a nossa história e a própria criação artística, propondo antes um muito necessário olhar queer a temas que vão da precariedade à criação artística, da gentrificação à violência sexual sobre mulheres, das relações às drogas. São filmes atravessados por questões de território e identidade, que percorrem espaços de performance e subversão política, e outros de ruralidade onde a ausência de referentes torna urgente a criação de novas formas de estar. 

 

Aos títulos e atividades anunciados durante as últimas semanas - a retrospetiva dedicada ao movimento no wave nova-iorquino com foco especial na obra de Vivienne Dick, os filmes de abertura e encerramento, e as sessões especiais-, juntam-se agora os filmes que integram as duas competições oficiais do festival (Competição Oficial e Prémio Casa Comum), o Queer Focus e o anúncio de conversas, júris oficiais, festas e outras atividades paralelas.

 

O júri da Competição Oficial é formado pela produtora da RTP Isabel Correia, pelo performer e educador Dori Nigro e pela artista e realizadora Tânia Dinis. Esta secção volta a combinar ficção e documentário com o intuito de compreender as realidades dos indivíduos e comunidades queer. “Carvão” é um bom exemplo da complexidade cada vez maior daquelas: a força crítica desta sátira radica em como questiona a manipulação dos poderes políticos e religiosos, a hipocrisia dos estados e a violência que ameaça os nossos corpos. Em registo lésbico e adaptado a um urbano relato de encontros e desencontros na Barcelona atual, “La Amiga de Mi Amiga” vem assinado por uma equipa integralmente queer e navega, com leveza pop, entre o humor intencionado e o involuntário. Foco também para a incansável ativista Kenya Cuevas no documentário que leva o seu nome, “Kenya”: uma viagem às realidades mais perigosas e esquecidas da Cidade do México, num país que, a seguir ao Brasil, é o segundo do mundo que mais transexuais mata. E ainda, “Vicente Ruiz – A Tiempo Real”, sobre o artista que no Chile dos anos 80 respondeu com as suas performances à ditadura de Pinochet, e que estará presente no Porto para apresentar o filme. Mais quatro títulos completam esta secção, cujo prémio é patrocinado pela RTP, pela aquisição dos direitos de difusão do filme, valorizado em 3.000€.

 

O Prémio Casa Comum permite-nos, mais uma vez, auscultar o panorama do cinema queer nacional em formato de curta-metragem. Alguns títulos em destaque: o híbrido entre o ensaio e a lenda histórica “Dildotectónica”; “Dias de Cama”, que percorre a languidez de um verão passado entre a cidade e o campo; “Mátria”, homenagem a Natália Correia filmado na ilha de São Miguel; e uma obra corajosamente autobiográfica: “A Minha Raiva É Underground”, filme-performance que investiga e mapeia a cidade onde uma mulher, jovem e queer, foi violada. No total, oito filmes compõem uma secção que será avaliada pela psicóloga Rita Aires, pela socióloga Paula Guerra e por Susana Serro, da Unidade de Cultura da Reitoria da Universidade do Porto. Elas serão as responsáveis por decidir qual dos filmes vence o Prémio valorado em 500€ e patrocinado pela Reitoria da Universidade do Porto.

 

O Queer Focus deste ano na Casa Comum, “Entre Duas Culturas", reflete sobre o conceito de fronteira, abarcando tanto fronteiras metafóricas como físicas. Em “ALTAR. Cruzando Fronteras, Building Bridges” é-nos dada a ver a tessitura do poder que emana do legado da escritora chicana Gloria Anzaldúa (1942-2004), e onde se examina o espaço conflituoso de se estar entre o Primeiro Mundo e o Terceiro Mundo, e a reprodução de formas de desigualdade entre essas duas realidades. “Ana Mendieta: Fuego de Tierra” é um retrato de vida e obra da artista cubana Ana Mendieta (1948–1985), que marcou a fronteira de pertencimento no uso do seu próprio corpo como suporte na arte, ao utilizar elementos da religião afro-cubana e da natureza para expressar a sua visão poética e política feminista. Por último, “The Hearing” denuncia a objetificação de quatro pessoas requerentes de asilo, rejeitadas por meio de exercícios de representação dos operadores hegemónicos e pela assimilação de símbolos e práxis da branquitude cisgênera no campo das imagens.

 

Dois filmes dessa secção e um documentário das Sessões Especiais serão complementados por conversas. Assim, à exibição de “ALTAR. Cruzando Fronteras, Building Bridges” segue-se uma conversa entre a sua realizadora Paola Zaccaria e a curadora Isabeli Santiago; a projeção de “The Hearing” será acompanhada por uma conversa com a Dra. Isabel Almeida Rodrigues, Secretária de Estado da Igualdade e Migrações; e a escritora e pesquisadora Hannah Bastos participará numa conversa sobre a obra e figura da teórica bell hooks, no seguimento da exibição do documentário sobre a autora de “Tudo do Amor”.

 

E para celebrar após as sessões de cinema, duas festas: uma de Abertura e outra de Encerramento, no Bar of Soap e no Maus Hábitos, respetivamente.

 

O Queer Porto 9 conta, entre outros, com os apoios da Câmara Municipal do Porto / Ágora e do ICA – Instituto do Cinema e do Audiovisual, além de importantes parcerias como as estabelecidas com a Secretária de Estado da Igualdade e Migrações, as Embaixada da Irlanda e da Espanha, o Youtube, a Absolut, a FLAD – Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e a Variações.


QUEER PORTO 9 - Programa completo:


NOITE DE ABERTURA
Tudo o que Você Podia Ser / All that You Could Be, Ricardo Alves Jr. (Brasil, 2023, 83’)

 

NOITE DE ENCERRAMENTO
Commitment to Life, Jeffrey Schwarz (EUA, 2023, 115’)

 

COMPETIÇÃO OFICIAL
A Hawk as Big as a Horse, Sasha Kulac (França, 2022, 76’)
La Amiga de Mi Amiga / Girlfriends and Girlfriends, Zaida Carmona (Espanha, 2022, 89’)
Carvão / Charcoal, Carolina Markowicz (Brasil, Argentina, 2022, 107’)
Des garçons de province / Smalltown Boys, Gaël Lépingle (França, 2022, 84’)
Dos Estaciones, Juan Pablo González (México, França, EUA, 2022, 99’)
Kenya, Gisela Delgadillo (México, 2022, 90’)
The Last Year of Darkness, Ben Mullinkosson (China, EUA, 2023, 95’)
Vicente Ruiz - A Tiempo Real / Vicente Ruiz - In Real Time, Matías Cardone, Julio Jorquera (Chile, 2022, 63’)

 

PRÉMIO CASA COMUM

Apontamentos de Curva_Correnteza / In Curve Notes_Stream, Flavia Regaldo (Portugal, 2022, 7’)
Dias de Cama / Bed Days, Tatiana Ramos (Portugal, 2023, 20’)
Dildotectónica / Dildotectonics, Tomás Paula Marques (Portugal, 2023, 16’)
Entre a Luz e o Nada / Between Light and Nowhere, Joana de Sousa (Portugal, 2022, 20’)
Land Song, Inês Ariana Pereira (Portugal, 2022, 8’)
Mátria, Catarina Gonçalves (Portugal, 2023, 26’)
A Minha Raiva É Underground / My Rage Is Underground, Francisca Antunes (Portugal, 2023, 13’)
Tidy Bed, Danilo Bastos Godoy (Portugal, Alemanha, Brasil, 2023, 15’)

 

SESSÕES ESPECIAIS
bell hooks: Cultural Criticism & Transformation, Sut Jhally (EUA, 1997, 66’)
Feminism WTF, Katharina Mückstein (Áustria, 2023, 90’) * na imagem
Music Is My Boyfriend, Robert Kennedy (Canadá, 2022, 40’)
Un prince / A Prince, Pierre Creton (França, 2023, 82’)

 

QUEER FOCUS: “Entre Duas Culturas”
ALTAR. Cruzando Fronteras, Building Bridges, Daniele Basilio, Paola Zaccaria (Itália, 2009, 53’)
Ana Mendieta: Fuego de Tierra, Kate Horsfield, Nereyda Garcia-Ferraz (EUA, 1987, 49’)
The Hearing, Lisa Gerig (Suíça, 2023, 81’)

 

RETROSPETIVA: “No Present. No Future. No Wave.”
A Skinny Little Man Attacked Daddy, Vivienne Dick (Reino Unido, 1994, 23’)
Beauty Becomes the Beast, Vivienne Dick (EUA, 1979, 41’)
Black Box, Beth B, Scott B (EUA, 1979, 20’)
Empty Suitcases, Bette Gordon (EUA, 1980, 52’)
Guerillère Talks, Vivienne Dick (EUA, 1978, 25’)
The Irreducible Difference of the Other, Vivienne Dick (Irlanda, 2013, 27’)
Liberty’s Booty, Vivienne Dick (EUA, 1980, 48’)
Like Dawn to Dust, Vivienne Dick (EUA, 1983, 7’)
Lydia Lunch: the War Is Never Over, Beth B (EUA, 2019, 75’)
New York Conversations, Vivienne Dick (Reino Unido, 1990, 21’)
New York Our Time, Vivienne Dick (Irlanda, 2020, 79’)
Red Moon Rising, Vivienne Dick (Irlanda, 2015, 15’)
Rome ’78, James Nares (EUA, 1978, 82’)
She Had Her Gun All Ready, Vivienne Dick (EUA, 1978, 28’)
Staten Island, Vivienne Dick (EUA, 1978, 6’)

 

CONVERSAS
Conversa com Hannah Bastos
Conversa com Isabel Almeida Rodrigues - SEIM
Conversa com Paola Zaccaria & Isabeli Santiago

 

FESTAS
Festa de Abertura - 10 outubro, Bar of Soap (22h-02h)
Festa de Encerramento - 14 outubro, Maus Hábitos (00h-06h), com Chicks on Cheeks, ONIO e LAVA (Dj Set)

 

Este site utiliza cookies da Google para disponibilizar os respetivos serviços e para analisar o tráfego. O seu endereço IP e agente do utilizador são partilhados com a Google, bem como o desempenho e a métrica de segurança, para assegurar a qualidade do serviço, gerar as estatísticas de utilização e detetar e resolver abusos de endereço.