Teve lugar esta noite, às 21h00, a Sessão de Encerramento do Festival Internacional de Cinema Queer - Queer Lisboa 28, na Sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge, onde foram anunciados os filmes vencedores de todas as competições:
COMPETIÇÃO LONGAS-METRAGENS
Júri: Cristina Carvalhal, Márcio Laranjeira e Tita Maravilha
Melhor Filme
Asog, Seán Devlin (Canadá, Filipinas, 2023, 98')
Por nos mostrar o quanto o cinema Queer sabe sobre género e como devolve os géneros ao Cinema; Pela renovação do olhar sobre estas identidades e a sua originalidade narrativa; e por nos relembrar que o Amor também é uma herança Queer e que a luta é interseccional, este filme, é sem dúvida alguma, sentido e amado pelo júri.
Menção Especial
Stress Positions, Theda Hammel (EUA, 2023, 95')
O júri decidiu atribuir uma menção especial ao trabalho de argumento, realização, montagem, interpretação e composição sonora, à autora do filme Stress Positions. Um filme desdobrado em camadas de sentido, inteligente e dinâmico, com um humor sobre si próprio - o que nos interessa contemporaneamente. Theda Hammel desenha esta comunidade assumindo cicatrizes e fissuras numa espécie de explosão íntima partilhada com o público. Obrigada Theda, continua connosco.
Prémio do Público
Sem Coração / Heartless, Nara Normande, Tião (Brasil, França, Itália, 2023, 91’)
COMPETIÇÃO DOCUMENTÁRIOS
Júri: Maria João Gama, Paula Monteiro e Renata Ferraz
Melhor Filme
Neirud, Fernanda Faya (Brasil, 2023, 72’)
Escolhemos este filme por ser um mergulho poético e introspetivo, enquanto traz questões fulcrais para o momento em que vivemos. O filme acompanha a jornada da sua protagonista criando um labirinto de lembranças e sentimentos reprimidos, investigado de maneira fragmentada ao longo de dez anos. Estórias como as da protagonista, uma mulher negra, lésbica, nómada e praticante de luta livre, não são comuns de serem ouvidas devido ao apagamento reiterado destas vivências ao longo dos tempos. No entanto, são fundamentais para pensarmos e vivermos com uma consciência social mais desperta, num mundo mais justo, que nos parece uma utopia nos tempos que correm.
Menção Especial
Frammenti di un Percorso Amoroso / Fragments of a Life Loved, Chloe Barreau (Itália, 2023, 95’)
Decidimos atribuir a menção especial a um filme que é uma poesia visual, agrupando experiências amorosas não normativas numa trama inquietante e intimista. O filme fala sobre memória, desejo e perda, de forma sensível através das protagonistas. A realizadora explicita o domínio da sedução e o poder da realização, manipulando estórias e sentimentos durante a feitura do documentário. Inquietante e audacioso, questiona sobre quem é sujeito e quem é objeto nas relações amorosas ou nas criações de filmes.
Prémio do Público
Neirud, Fernanda Faya (Brasil, 2023, 72’)
COMPETIÇÃO CURTAS-METRAGENS
Júri: Diogo Camões, June João e Madalena Fragoso
Melhor Filme
getty abortions, Franzis Kabisch (Alemanha, Áustria, 2023, 22’)
O filme destaca-se pela sua visão crítica sobre sistemas de representação e sua relação com a produção de verdade, revelando a possível natureza moralizante das imagens e seu uso. Com um humor incisivo e inesperado, questionam-se as narrativas de culpa associadas à experiência do aborto, abordando a mulheridade como uma vivência intrinsecamente queer.
Menção Especial
Paradise Europe, Leandro Goddinho, Paulo Menezes (Alemanha, Brasil, 2023, 17’)
O filme desconstrói as contradições europeias através do olhar de uma pessoa migrante que expõe as suas fronteiras violentas e as falácias de acolhimento, denunciando a podridão dos valores europeus, revelando o privilégio de uns e a exclusão de outros.
Prémio do Público
Queen Size, Avril Besson (França, 2023, 19’)
COMPETIÇÃO CURTAS-METRAGENS DE ESCOLA EUROPEIAS - “IN MY SHORTS”
Júri: Diogo Camões, June João e Madalena Fragoso
Melhor Filme
Cura Sana, Lucía G. Romero (Espanha, 2024, 19’)
Através de uma narrativa segura, o filme oferece uma representação subtil e redentora de sororidade e resiliência. A realizadora conduz a história com ternura e precisão, apoiada por interpretações poderosas e comoventes.
COMPETIÇÃO QUEER ART
Melhor Filme
Sofia Foi / Sofia Was, Pedro Geraldo (Brasil, 2023, 67’)
Pela surpreendente proposta estética e pelo olhar atento e sensível sobre a solidão da juventude queer no espaço urbano.
Menção Especial
Trans Memoria, Victoria Verseau (Suécia, França, 2024, 72’)
Pela conversa clara e plural que este filme nos apresenta, bem como pelo seu forte gesto estético-político em apresentar uma premissa tão importante e cara ao transfeminismo que é a questão ao direito à autonomia sobre o corpo.
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A presente edição do festival acolheu dezenas de convidades internacionais, vindes de países como o Brasil, EUA, França, Alemanha, Argentina, Países Baixos, Kosovo, Ucrânia, Suíça, Reino Unido, Espanha, Indonésia, Tailândia, Itália e Chile, além des váries convidades portugueses, numa das maiores representações geográficas e de número de convidades dos últimos cinco anos.
O Cinema São Jorge e a Cinemateca Portuguesa viram um acréscimo de público em relação à edição anterior, tendo atingido um valor próximo dos 8.000 espectadores, para além das muitas pessoas que frequentaram as atividades paralelas do festival.
Numa edição de um forte pendor político, reflexo da atual situação global e do próprio cinema que reflete essa realidade, o Queer Lisboa 28 foi um apelo aos direitos humanos, denunciou conflitos, guerras, o genocídio sobre Gaza, falou sobre a gentrificação e a grave situação social e humana que se vive na cidade de Lisboa, não esquecendo essa “ideologia do género” das direitas que violenta os nossos corpos queer. Uma edição que foi um apelo à defesa das nossas liberdades individuais e coletivas.
Encerrada mais uma edição do Queer Lisboa, estão já confirmadas as datas do Queer Lisboa 29, a ter lugar de 19 a 27 de setembro de 2025, no Cinema São Jorge e Cinemateca Portuguesa. Entretanto, terá lugar a 10.ª edição do Queer Porto, entre 8 e 12 de outubro de 2024, no Batalha, Casa Comum e Passos Manuel.